Para onde caminhamos?Numa altura em que surgem notícias, com uma regularidade impressionante, de agressões a equipas de arbitragem, há várias interrogações que me surgem repetidamente. E sem mais delongas, vamos lá tentar perceber algumas coisas:
1) Os árbitros são humanos?
São, são humanos sim senhor. De carne, osso e tudo a que têm direito. E sabem uma coisa? Poderiam ser nossos pais, mães, irmãos ou irmãs, filhos, amigos, vá lá. E se não nos são nada disso, o serão a alguém. Imaginem uma mãe chegar a casa, com a cara marcada, e explicar à sua filha de 10 anos que foi agredida num jogo de Futsal, porque... tentou cumprir as regras do jogo o melhor que sabia e podia.
2) Mas só os árbitros é que erram?
Essa é uma questão engraçada, porque no Futsal, em cada 10 segundos há um ou mais erros de atletas e treinadores. Depois chega-se ao final do jogo (ou às vezes nem ao final chega) e culpa-se um ou dois seres humanos que, errando também, provavelmente erraram muito menos do que os outros intervenientes. À velocidade que o jogo se desenrola, por vezes até o assinalar de uma reposição lateral é complicada. Eu já arbitrei jogos de Futsal, para ajudar em torneios de pré época. Cada vez que o fiz jurei que seria a última. Depois, como gosto de ajudar, lá cedo e, à falta de melhor, lá vou eu apitar mais um joguito. E lá volto eu a fazer a jura...3) E na formação? Que valores passamos aos nossos atletas?
Sim, porque quando um miúdo de 12 anos vê o seu treinador/dirigente ser expulso, insultar um árbitro, agredir, etc., isso é um exemplo fantástico. Que valores vamos passar aos nossos atletas? Que vale tudo? Que perdemos porque a culpa é sempre dos outros? Que é válido agredir alguém quando as coisas não nos correm de feição? Que ganhar é tudo o que importa? Depois, esse mesmo miúdo, chega aos 18 anos e pode ter comportamentos idênticos. Na quadra, mas também na sociedade em geral.
4) E os pais? No meio disto tudo qual o papel deles?
Generalizar é sempre um erro. Sem dúvida. Por vezes diz-se que “o pior da formação no Futsal são os pais”. Errado. Os pais são parte fundamental deste processo. Principalmente se ensinarem os seus filhos a respeitar, se não se intrometerem nas decisões do treinador (exceto se essas decisões passarem por agredir ou insultar alguém), se não pressionarem as crianças no processo desportivo. Entre outras coisas. Mas também ajuda terem um comportamento digno na bancada, para com as equipas de arbitragem e adversários. Fará com que os seus filhos também respeitem os outros intervenientes, porque em casa os pais os ensinaram que aqueles senhores que estão a ajuizar o jogo, estão lá para ajudar, e não para prejudicar. E os adversários não são mais do que jogadores como eles, que estão lá para praticar desporto e tentar ganhar. Infelizmente, há muitos casos em que as agressões partem da bancada, vendo-se depois crianças a chorar, aflitas com o tumulto gerado.
5) Ok. Mas os árbitros não erram? E são todos boas pessoas?
Generalizar é sempre um erro. Não, não são todos boas pessoas. Sim, erram. Muitas vezes. O que estou a tentar dizer é que a violencia não é solução para nada. Vamos por partes. O árbitro vai errar. SEMPRE. Em todos os jogos. É normal. Mas o engraçado é que os jogadores também vão errar, SEMPRE, em todos os jogos. E os treinadores também! Portanto, por aí é normal. Todos erram, nada justifica que todos sejam agredidos por isso (árbitros, jogadores, treinadores). E se o árbitro não agir de boa fé (se não for a “tal boa pessoa”), podemos reclamar com ele no final, fazer uma exposição à AF Porto, etc. Perguntam: e isso resolve alguma coisa? Respondo com uma pergunta: e o que é que uma agressão resolve? Eu respondo novamente. Resulta em suspensões e multas para o clube agressor, resulta em traumas para o árbitro e para a sua família, mas às vezes as repercussões são maiores. Às vezes são os nossos filhos que ficam traumatizados, por estarem em campo e verem alguém a agredir o juiz da partida. E para quê? Não devíamos estar todos a desfrutar do Futsal, divertirmo-nos, competir, se possível competir para ganhar? Assim não. Assim todos perdemos.
Para finalizar, não há jogo de Futsal sem jogadores. Eles são o mais importante. Mas há treinadores (grupo no qual me incluo) para alguma coisa. São muito importantes, na orientação e formação de atletas. E depois há os árbitros, sem os quais a competição seria muito mais difícil de levar a cabo. Se percebermos que, todos juntos, somos o Futsal, e que todos têm a sua importância, as coisas podem melhorar. Vamos ser tolerantes. O árbitro que me arbitrou hoje, pode vir a ser meu amigo amanhã. E eu, às vezes, chateio-me com os meus amigos, mas não os maltrato.