Sinto a China como uma segunda casa
Falar em André Lima é falar num dos expoentes máximos da modalidade, como jogador espalhou magia nos campos de futsal, sendo um dos centenários como internacional e chegou à marca das 111 internacionalizações sendo ainda o nono mais internacional e só o Ricardinho o ultrapassou em número de golos marcados, mas a sua média de golos marcados por jogo ao serviço das quinas é quase inatingível pois tem uma média de quase um golo por jogo (0,963), Ricardinho tem uma média de 0,85 golos por jogo.

Como treinador para além de títulos nacionais, ostenta o título de UEFA CUP ao serviço do SLB, sendo ainda o único português a conseguir tal feito.
Na China desde 2011 tem espalhado o seu saber e não se tem dado mal, fique com a entrevista de Fernando Parente ao Imperador português.
Fernando Parente [FP]: André, a nossa anterior entrevista já foi há quatro anos, estavas tu no início da tua aventura na China. O que alterou na tua vida profissional neste tempo?
André Lima [AL]: Alterou muita coisa, já estou na China á seis anos, quando cheguei pensei que ia ficar quinze dias, mas a verdade é que o tempo foi passando, fui-me adaptando á realidade e á cultura chinesa, e hoje sinto a China como uma segunda casa. Tenho amigos, trabalho e reconhecimento.
FP: Alguma vez pensaste que irias permanecer tanto tempo por aí?
AL: Na profissão de treinador nunca existe a certeza do tempo de permanência seja onde for. Como disse quando cheguei, pensei em ficar quinze dias e já passaram seis anos.
FP: Futebol 11, Futebol de 7, Futsal. Tens feito de tudo um pouco em prol do desenvolvimento desses desportos na China. Sentes que estás a ir no caminho certo?
AL: Eu sigo sempre os meus instintos, fiz isso como jogador e continuo a fazer como treinador. Foi-me apresentado este projeto das academias de futsal/futebol e depois de bem ponderado aceitei e, graças a Deus, está a correr muito bem. E sim, o trabalho que tenho desenvolvido na China nestes seis anos tem sido muito valorizado.
FP: O aprenderes a falar e escrever mandarim foi um enorme passo para a tua vinculação à China?
AL: Para já estou só aprender mandarim, escrever é bem mais difícil, mas com certeza será o próximo passo. A decisão de aprender mandarim tem como objetivo melhorar a comunicação com todos que estão envolvidos neste projeto e melhorar também a minha qualidade de vida neste país.
FP: Tens uma escola de futsal, dás palestras, formações, etc... É o reconhecimento do povo chinês para com tudo aquilo que tens feito pelo mesmo em relação ao desporto?
AL: Tudo o que tenho feito na China, tem o reconhecimento de quem trabalhou e trabalha comigo. Neste momento este projeto está a dar-me um prazer enorme, é um projeto pessoal, com a minha imagem, que vejo crescer num país tão competitivo como é a China. Já trabalhei em clubes, federação chinesa e agora trabalho na formação. Se olharmos para a ordem do caminho, parece de altos e baixos, mas a verdade é que neste momento a formação é o momento da minha passagem na China que o povo mais valoriza. Pelo menos é o que o povo chinês me faz sentir.
FP: Sei que tens realizado um enorme e meritório trabalho a nível desportivo, social e cultural. Mas aparece sempre o nome associado a Portugal. É uma forma de não deixares cortar o vínculo ao teu País natal ou uma homenagem a quem sempre esteve do teu lado?
AL: A gratidão é um valor humano que nunca vou abrir mão. O que sou, o que faço e o que vou fazer no futuro, agradeço á minha família, aos meus amigos, a quem me formou como jogador, treinador e a todo o meu passado do qual me orgulho muito. Sem isso era impossível fazer o que estou a fazer aqui em termos sociais e desportivos. E tudo o que faço na China, seja em que cidade for, deixo sempre a marca orgulhosamente portuguesa.
FP: Agora vamos falar de Futsal. Após uma fase em que muitos jogadores e treinadores portugueses emigraram para a China, desde há alguns anos a esta parte não se ouve falar tanto. O Futsal chinês regrediu ou está-se a realizar um trabalho mais de formação para que daqui a dois, três anos se volte apostar na modalidade?
AL: É verdade, cheguei em agosto de 2011 e passado poucos meses houve uma invasão de portugueses e brasileiros para jogar futsal na China. Não gosto muito de falar sobre essa altura, porque ainda hoje não entendo o que se passou para a China “fechar a torneira “ no futsal aos estrangeiros quando tinha tudo para ser um mercado de referência para todos. Talvez um dia perceba o que se passou e possa falar melhor sobre isso. O que penso é que em relação ao futsal chinês vai ser preciso mais do que três ou quatro anos para crescer principalmente em termos organizativos. Em relação ao potencial, é grande.
FP: Pelo tempo que já vives aí, pela aposta feita neste último ano no futebol chinês, onde se gastaram milhões em contratações, achas que o futsal pode vir a ter uma ascensão no mercado idêntica á do futebol?
AL: No caso do futebol na minha opinião, é como começar a casa pelo telhado gastar milhões em meia dúzia de estrelas. O crescimento do futebol chinês vai passar inevitavelmente pela formação e competições oficiais para jovens, coisa que ainda não existe. E só depois disto o futsal vai ter o seu espaço, e acredito que seja um espaço grande na China olhando para todo o potencial do país.
FP: Apesar de longe, sei que estás sempre atento ao que se vai passando em Portugal. Que comentário podes fazer à Liga SportZone esta época?
AL: O comentário não é difícil de fazer se olharmos á qualidade que o Sporting está a apresentar. Está a mostrar uma qualidade acima dos outros todos. Apesar de não ser um futsal espetacular, que não é. É mais um jogo de massacre físico sobre os adversários, o uso do guarda-redes avançado, bolas paradas muito bem trabalhadas e o jogo direto para o pivot. É o futsal moderno.
FP: Sei que seguiste a edição da taça da liga de futsal este ano. O que viste na mesma para além duma grande organização por parte da FPF?
AL: Vi bons jogos. Jogos muito competitivos. O problema será sempre nos horários e os dias da semana para quem não é profissional.
FP: Eu, como Treinador de futsal, gostava que a mesma fosse mais abrangente, que englobasse também clubes da 2ª Divisão Nacional, por exemplo, os primeiros quatro classificados de cada série no final da primeira volta da fase regular. E tu, que achas amigo?
AL: Sou mais da opinião de uma competição similar na segunda divisão. Já existe a Taça de Portugal com equipas das divisões secundárias. Isto é só a minha opinião.
FP: E em relação aos modelos competitivos do futsal em Portugal, sentes que os mesmos estão ajustados para gerar mais competitividade, ou para beneficiar os clubes que conseguem chegar à Liga Sportzone?
AL: Amigo nessa matéria fica difícil para mim dar uma opinião, pois estando longe não consigo sustentar a mesma.
FP: Passando à UEFA Futsal Cup. O que achaste do sorteio, foi bom para o Sporting?
AL: Estando numa final four, pouco importa o adversário da meia final. Se querem ser campeões da Europa têm que ganhar aos melhores.
FP: Poderá ser Nuno Dias o teu sucessor, uma vez que és o único Treinador português que alcançou o feito de ter vencido essa competição?
AL: Tenho muito orgulho em ter o rótulo de campeão da Europa , mas não tenho orgulho nenhum em ser o único treinador principal campeão da Europa, espero sinceramente sem hipocrisia que o Sporting consiga atingir esse objetivo.
FP: E em relação à nossa Seleção, o que achas que falta á mesma para que nas grandes competições internacionais não falhe?
AL: Essa pergunta vai acabar por ser eterna até se ganhar. O que falta? Falta ser melhor do que os outros. Não me falem em que a razão principal é que a nossa liga é fraca, porque o Benfica ganhou em 2010 á melhor equipa do mundo. Eu acredito sempre que, quem tem a melhor equipa ganha mais vezes. Podemos ganhar também como ganhamos no futebol, exatamente da mesma maneira. Mas só dessa maneira. Se pensarmos que somos os melhores vamos perder sempre mesmo tendo o melhor jogador de todos os tempos como o Ricardinho.
FP: Será tudo fruto dum profissionalismo que se quer implementar que é quase impossível para a realidade do país, mas não se consegue?
AL: Em vez de pensar em profissionalismo temos é que formar bons jogadores técnica e mentalmente. Se calhar o trabalho mental devia ser mais aprofundado.
FP: André, sei que as saudades de Portugal são imensas, mas a companhia da tua esposa ajuda a minorar as mesmas, certo?
AL: A presença da minha esposa é essencial para o meu sucesso.
FP: Alguma proposta neste momento te faria deixar a China e regressar a Portugal?
AL: Teria que ser uma proposta muito especial para abandonar o que estou a viver.
Estou muito feliz e realizado neste momento. Mas, o futuro a Deus pertence.
FP: Amigo André, deixaste algo por dizer que não tenha sido referido nas anteriores questões?
AL: Sim, deixei. Em primeiro, obrigado a vocês pela oportunidade de falar sobre mim e sobre o meu trabalho. Depois dizer que vou dar o meu melhor para que a imagem do nosso país saía favorecida com o meu trabalho neste lado do mundo. Forte abraço e façam o favor de ser felizes.